Nossa! Que medo que eu sentia, quando ainda era garoto e a matintapereira rondava nossa casa, no meio da noite escura, em Belém do Pará.
Mesmo com a porta trancada e as janelas fechadas, tudo no cadeado, era um medão sem tamanho, que não tinha pai, nem vô, mãe ou irmão mais velho que se mostrassem valentes, com coragem pra sair, espantar, pôr pra correr de lá de nosso quintal a danada da matinta!
Eu sei porque era assim que acontecia com a gente e, também, na vizinhança, fosse em casa de quem fosse.
Em noite de sexta-feira, quando a matinta chegava, com seu agudo piado, batendo as asas, nervosa, fazendo seu barulhão, era batata, eu garanto, já encontrava as famílias bem trancadas, resguardadas, se protegendo contra o ataque da maldita.
E ai de quem se encontrasse em rua, estrada ou lavoura!
Corria o maior perigo, toda sexta-feira à noite!
Claro que me lembro bem!
Como haveria de esquecer?!
E mais me recordo ainda que meu pai, por fim, notando a assombração cansada de tanto rondar a casa, fazia feito vovô, quando mais forte e mais novo.
Pegava o grande facão, que ficava bem guardado em um armário da sala, ia pro quarto dos fundos, de onde, bem protegido atrás da janela trancada, gritava para a bandida.
- Matinta! suma daqui! Vá embora! Se afaste! - insistia papai - volta amanhã de manhã para buscar seu fumo e as prendas que vou lhe dar! - prometia à malvada.
Minha mãe ficava aflita, mas era o que mais bastava!
Logo, a matintapereira, soltando um forte piado, desses de arrepiar, batia as asas e ia, deixava nosso quintal, com certeza mais disposta a assombrar noutro canto.
Na manhã do seguinte, era batata, garanto!
Bem cedinho aparecia, lá na porta de casa, uma velhinha qualquer, sorrindo e asseverando que vinha buscar sua prenda, mais o fumo prometido.
E ai de quem não cumprisse a promessa efetuada!
A velha não ia embora.
Metia-se no quintal e se escondia por lá, sem que ninguém notasse qual o paradeiro dela.
Mais tarde, era tiro e queda!
Começava a sumir coisas.
Sumia coisa da casa e mais coisa do jardim.
E do quintal, muito mais!
Era frango, era pato, até leitão sumia.
Tudo por obra e graça da danada da matinta.
Daí, o que precisava era arranjar muito fumo, cachaça e muita prenda, punhado de coisa boa colocada por aqui, por ali, por acolá, que contentasse a maldita, fazendo a velha ir embora.
Por isso, jamais meu pai deixou de cumprir sua dívida, pagando sempre as promessas que fazia às matintas.
Assim que chegava a velha, batendo na nossa porta, dava a ela prenda e fumo, nos livrando da coitada.
Isso sempre aconteceu!
E não só em nossa casa!
Na casa de um primo meu!
Na fazendo de um tio!
Em tudo quanto é lugar!
Mesmo com a porta trancada e as janelas fechadas, tudo no cadeado, era um medão sem tamanho, que não tinha pai, nem vô, mãe ou irmão mais velho que se mostrassem valentes, com coragem pra sair, espantar, pôr pra correr de lá de nosso quintal a danada da matinta!
Eu sei porque era assim que acontecia com a gente e, também, na vizinhança, fosse em casa de quem fosse.
Em noite de sexta-feira, quando a matinta chegava, com seu agudo piado, batendo as asas, nervosa, fazendo seu barulhão, era batata, eu garanto, já encontrava as famílias bem trancadas, resguardadas, se protegendo contra o ataque da maldita.
E ai de quem se encontrasse em rua, estrada ou lavoura!
Corria o maior perigo, toda sexta-feira à noite!
Claro que me lembro bem!
Como haveria de esquecer?!
E mais me recordo ainda que meu pai, por fim, notando a assombração cansada de tanto rondar a casa, fazia feito vovô, quando mais forte e mais novo.
Pegava o grande facão, que ficava bem guardado em um armário da sala, ia pro quarto dos fundos, de onde, bem protegido atrás da janela trancada, gritava para a bandida.
- Matinta! suma daqui! Vá embora! Se afaste! - insistia papai - volta amanhã de manhã para buscar seu fumo e as prendas que vou lhe dar! - prometia à malvada.
Minha mãe ficava aflita, mas era o que mais bastava!
Logo, a matintapereira, soltando um forte piado, desses de arrepiar, batia as asas e ia, deixava nosso quintal, com certeza mais disposta a assombrar noutro canto.
Na manhã do seguinte, era batata, garanto!
Bem cedinho aparecia, lá na porta de casa, uma velhinha qualquer, sorrindo e asseverando que vinha buscar sua prenda, mais o fumo prometido.
E ai de quem não cumprisse a promessa efetuada!
A velha não ia embora.
Metia-se no quintal e se escondia por lá, sem que ninguém notasse qual o paradeiro dela.
Mais tarde, era tiro e queda!
Começava a sumir coisas.
Sumia coisa da casa e mais coisa do jardim.
E do quintal, muito mais!
Era frango, era pato, até leitão sumia.
Tudo por obra e graça da danada da matinta.
Daí, o que precisava era arranjar muito fumo, cachaça e muita prenda, punhado de coisa boa colocada por aqui, por ali, por acolá, que contentasse a maldita, fazendo a velha ir embora.
Por isso, jamais meu pai deixou de cumprir sua dívida, pagando sempre as promessas que fazia às matintas.
Assim que chegava a velha, batendo na nossa porta, dava a ela prenda e fumo, nos livrando da coitada.
Isso sempre aconteceu!
E não só em nossa casa!
Na casa de um primo meu!
Na fazendo de um tio!
Em tudo quanto é lugar!
Esta versão foi extraída do livro Lendas Brasileiras, de José Arrabal
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