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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Lenda do folclore brasileiro



Nossa! Que medo que eu sentia, quando ainda era garoto e a matintapereira rondava nossa casa, no meio da noite escura, em Belém do Pará.
Mesmo com a porta trancada e as janelas fechadas, tudo no cadeado, era um medão sem tamanho, que não tinha pai, nem , mãe ou irmão mais velho que se mostrassem valentes, com coragem pra sair, espantar, pôr pra correr de lá de nosso quintal a danada da matinta!
Eu sei porque era assim que acontecia com a gente e, também, na vizinhança, fosse em casa de quem fosse.
Em noite de sexta-feira, quando a matinta chegava, com seu agudo piado, batendo as asas, nervosa, fazendo seu barulhão, era batata, eu garanto, já encontrava as famílias bem trancadas, resguardadas, se protegendo contra o ataque da maldita.
E ai de quem se encontrasse em rua, estrada ou lavoura!
Corria o maior perigo, toda sexta-feira à noite!
Claro que me lembro bem!
Como haveria de esquecer?!
E mais me recordo ainda que meu pai, por fim, notando a assombração cansada de tanto rondar a casa, fazia feito vovô, quando mais forte e mais novo.
Pegava o grande facão, que ficava bem guardado em um armário da sala, ia pro quarto dos fundos, de onde, bem protegido atrás da janela trancada, gritava para a bandida.
- Matinta! suma daqui! Vá embora! Se afaste! - insistia papai - volta amanhã de manhã para buscar seu fumo e as prendas que vou lhe dar! - prometia à malvada.
Minha mãe ficava aflita, mas era o que mais bastava!
Logo, a matintapereira, soltando um forte piado, desses de arrepiar, batia as asas e ia, deixava nosso quintal, com certeza mais disposta a assombrar noutro canto.
Na manhã do seguinte, era batata, garanto!
Bem cedinho aparecia, lá na porta de casa, uma velhinha qualquer, sorrindo e asseverando que vinha buscar sua prenda, mais o fumo prometido.
E ai de quem não cumprisse a promessa efetuada!
A velha não ia embora.
Metia-se no quintal e se escondia por lá, sem que ninguém notasse qual o paradeiro dela.
Mais tarde, era tiro e queda!
Começava a sumir coisas.
Sumia coisa da casa e mais coisa do jardim.
E do quintal, muito mais!
Era frango, era pato, até leitão sumia.
Tudo por obra e graça da danada da matinta.
Daí, o que precisava era arranjar muito fumo, cachaça e muita prenda, punhado de coisa boa colocada por aqui, por ali, por acolá, que contentasse a maldita, fazendo a velha ir embora.
Por isso, jamais meu pai deixou de cumprir sua dívida, pagando sempre as promessas que fazia às matintas.
Assim que chegava a velha, batendo na nossa porta, dava a ela prenda e fumo, nos livrando da coitada.
Isso sempre aconteceu!
E não só em nossa casa!
Na casa de um primo meu!
Na fazendo de um tio!
Em tudo quanto é lugar!

Esta versão foi extraída do livro Lendas Brasileiras, de José Arrabal

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