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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Logradoiro mundiado


O sol alumiou o recinto moroso onde dormia Dorotéia. O clareúme fez com que se levantasse mais azelada do que outrora noite. Foi banhar-se, indisposta, pois sua cabeça estava atulhada de tristezas. Mesmo avoada, escovou a grelha, tufou o rosto de pó-de-arroz, deixando-o alume, passou uma água-de-cheiro, entonada, ficou toda donairosa. Nem se apoquentou em fazer o desjejum, pegou o guarda-sol e saiu para desmanar da triste solidão.

Antes de pegar o bonde, Dorotéia foi comprar uma bagana na taberna da nhá Filomena, que tinha boas ventas e sempre lhe saudava com um “delabençoe madame Dorotéia”. Ela sem nenhuma fiúza da vida, nem replicava e num galopeio sustancioso evadia-se, sem pestanejar, para ela era mister tocar de um lugar idílico, onde a paz reinasse num faz-de-conta repentino.

Já estava toda sumarenta, quando o bonde foi até lá, naquele logradoiro que apareceu aleatoriamente em seu olhar. A lonjura do itinerário, o entra-não-entra no bonde foi imaculado por ela ser merecendente da visão límpida daquele ambiente, que lhe deu imediata sustância pacífica. Sentou-se de baixo da mangueira, ali com o seu cocho bebeu água cristalina. De longe viu um zinho varar serelepe para a esquina e uma pequena toda trelosa acolá do canto. O tempo passou com o vento, que a fez brevemente cochilar, só queria partegar daquele ambiente para nunca mais voltar. No entanto, voltou a si, bispada colocou a sacola de pertences no colo e contemplou aquele paraíso particular, cantarolando uma modinha, aquela no qual tocou no dia quando conheceu o senhorito de sua mocidade, que tornou-se seu esposo, e que a pouco tempo partira para a eternidade.

Logo um píncaro de alegria tomou Dorotéia, que levantou-se, deu um passo à frente num breve reboleio, desintristecendo momentaneamente. Olhou para o alto e viu que um toró vinha iminente, isso esmoreceu a alegria que não aparecia a semanas. Assim, Dorotéia levantou-se e caminhou, despedindo-se daquele ambiente, menos azelada, menos panema. Mundiada com tudo que tinha visto, Dorotéia tornou-se uma testemunha-visitante diária de toda aquela flora do logradoiro até o último dia de sua estada neste plano material.

Josué Leonardo

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